
Certa vez, logo depois de uma aula, uma aluna me disse que estava se sentindo frustrada por não estar utilizando seu tempo livre para fazer coisas mais produtivas e gratificantes.
Perguntei o que ela gostaria de estar fazendo, que pudesse ser tão produtivo e gratificante. Aí, ela mencionou não a coisa em si, mas continuou dizendo que gostaria de fazer algo que fosse mais valorizado, que a motivasse a criar, a cooperar, e que fosse mais edificante. E finalizou com um sincero não sei.
Para uma certa surpresa dela e dos demais presentes, disse-lhe que, talvez, ela devesse considerar a possibilidade de, por enquanto, continuar exatamente assim: sem fazer nada que pudesse ser considerado tão especial.
Imediatamente, me lembrei de John Lennon e de seu desabafo na canção Watching the Wheels.
Ele foi severamente criticado quando resolveu simplesmente ficar básicos cinco anos cuidando de seu recém-nascido filho Sean e da casa, enquanto Yoko Ono tocava os negócios.
Posso ouví-lo dizendo:
"As pessoas dizem que sou louco por fazer o que estou fazendo. Elas me dão todo o tipo de conselhos para me salvar da ruína. E quando lhes digo que estou bem, elas me olham de um jeito estranho.
As pessoas me fazem perguntas, mas estão perdidas e confusas. E então digo a elas que não existem problemas, apenas soluções. Aí elas balançam a cabeça e me olham como se eu tivesse perdido o juízo. Digo a elas que não tem motivo para se ter pressa, que só estou aqui sentado passando o tempo.
Só estou aqui sentado olhando as rodas rodando. Eu simplesmente adoro vê-las rodando.”
Não sei se essa foi uma boa sugestão, mas, inúmeras vezes, sentimo-nos frustrados e culpados apenas pelo fato de podermos estar à vontade e sem pressa na vida, favorecidos material e contextualmente, como se isso não tivesse seu lado reconfortante e importante.
Lembrei-me também de Swami Sivananda, que dizia que quando temos tempo livre e não precisamos nos sacrificar constantemente pela manutenção de nossa existência material, estamos diante de uma dádiva e devemos aproveitar esses momentos para nos conhecermos melhor, para observarmos as pessoas e a natureza, para refletirmos e podermos agir com mais sabedoria, para observarmos o silêncio, para meditarmos, para nos descobrirmos sagrados.
Ou, quem sabe, apenas desfrutar do tempo e observar as rodas rodando, assim como o John.
Namaste!
Rosana
Fonte: http://yogablog.zip.net/
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