sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

AGUARDA O MOMENTO


Este homem carrancudo, hostil e ríspido, que te despreza, sofre os efeitos de males antigos, que se lhe instalaram na alma durante graves períodos de turbulência.
Essa dona nervosa, rude e agressiva, que te surpreende, é vítima de uma família ingrata que não soube ou não logrou organizar em clima de paz.

Aquele jovem bulhento, irresponsável e zombeteiro, de olhar tresvariado em uma expressão facial cínica, é resultado de um lar em permanente conflito, onde não luz o amor nem o respeito entre os seus membros.

Aquela pessoa indiferente, que segue impassível pela via dos teus sentimentos sem deixar-se tocar, permitiu que morresse o amor no seu íntimo, tal a soma de decepções recolhidas.

O grupo social que te parece escarnecedor, e não dispões de tempo senão para o lazer dos excessos e das alucinações, perdeu o contato com Deus, decepcionando com aqueles que pregam o amor e fomentam a guerra, falam de fraternidade e separam as criaturas, exaltam as virtudes se fazem promíscuos.

Não os censures, nem condenes ninguém.

Ignoras o que sofreram em dias passados, sob horrores indescritíveis, ou vivem ainda injunções dilaceradoras, nas quais estridulam desesperados.

Tentam diminuir o efeito dos sofrimentos através de métodos igualmente prejudiciais, sem conseguirem perdoar aqueles que os infelicitaram, perdoar a si mesmos, perdoar a vida.

Os seus excessos os estenuarão e o seu azedume torná-los-á sensíveis a outras aspirações, tal a amargura de que se verão objeto.

Não são maus. Estão sofrendo sem conforto, e negam-se a recebê-lo neste momento.

Terão tempo para despertar, e é necessário que, nessa futura ocasião, encontrem apoio.

Semeia tu, agora, a esperança e a fé com os olhos postos no futuro.

Desde que o solo dos seus corações não aceita a tua proposta de renovação neste momento, põe as sementes de luz em volta deles, a fim de que as possam alcançar mais tarde, quando tiverem condições para beneficiar-se delas.

Faze a tua parte com benignidade e simpatia, sem exigência nenhuma.

A dor, que eles escarnecem, e o amor, que desdenham, são imbatíveis. Permanecem aguardando e se instalam na alma, dominando-a até que ela se plenifique de paz.

Reserva ao tempo o que agora não é possível realizar, e fica tranqüilo.

Nunca sofreste o que essas vidas experimentaram.

Sobreviveram à loucura geral, na qual, incontáveis sucumbiram e foram devorados pelo desespero e pela morte.

Sofreram guerras exteriores e continuam travando batalhas íntimas, que lhes parecem intermináveis.

Foram violados nos sentimentos mais nobres, que viram estiolar-se ao impacto de males inconcebíveis.

Perderam o respeito pelos outros e por si mesmos, entregando-se ao abandono.

Alguns tornaram-se sonâmbulos, que despertam, de quando em quando, para reagir, desforçar-se, consumir-se.

Têm outros hábitos e costumes, outra cultura, outro idioma e são no entanto, teus irmãos necessitados.

Mesmo bloqueados, os seus sentimentos estão intactos.

Ninguém os pode destruir, embora as agressões mais vis sofridas.

De um para outro momento, surgir-lhes-á o desejo de experimentar a paz de repousar. Sentirão saudades do amor e anelarão por ele.

Estará, então, chegada a sua hora. Por enquanto, necessitam da fornalha ardente, na qual se depuram.

O sol aquece o pomar e o deserto, o rio e o pântano com a mesma intensidade.

Assim deve ser a tua ação junto às criaturas: gentil com todos e cumpridor dos deveres em relação a todos.

Descobrirás que, no pomar, medram ervas más; no deserto, abrem-se flores; no rio há perigos, e no pântano desabrocham lótus.

O mesmo ocorre em relação às almas.

Nenhuma que seja tão má, que não ofereça bênção, ou não tão boa, que não lute com dificuldades.

Jesus afirmou que não julgava ninguém, porque nos conhece a todos, e, em razão disso, ama-nos e apóia-nos sem cessar, aguardando que nos integremos nas Suas hostes, sem imposição, nem capricho.

Assim, aguarda o momento.



Joanna de Ângelis

Fonte: http://consolador.com.br/textos.php?id=79

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